quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Lassidão

Tô cansada...

Cansada de me anular.

Cansada de não ser ninguém.

Cansada de suprimir minhas vontades em detrimento de outrem.

Tô cansada de ser a errada, sempre.

Tô cansada de ser a irresponsável e/ou a responsável.

Cansei de mendigar.

Cansei de tentar entender.

De tentar ser entendida.

De não ser compreendida.

De ter a voz calada.

De ter a razão tirada.

De não dizer a verdade.

Cansei de ser a mesquinha e ter que aturar mesquinharia.

Cansei de passar por cima de mim mesma.

De viver na dependência de esmola.

Esmola de carinho.

Esmola de dinheiro.

Esmola de paz.

Esmola de amor.

Esmola de olhar.

Cansei de deitar de mansinho quando ele tá dormindo e de pular no colchão quando ele se deita.

Cansei de não ter escolha.

Cansei de escolher o que o outro pensa, de zerar minha verdade.

Cansei de ouvir o ruim e ver o bom acontecer logo em seguida, mas não comigo.

De receber o não e ver o sim ser dado a outro.

Cansei de chorar quieta, sem poder expressar o que sinto.

De ter medo de sentir.

De saber que o que eu sinto ofende.

Cansei de sentir.

Cansei de ter tudo pela metade.

Cansei de dividir e ser subtraída.

De compartilhar e ser sozinha.

Cansei de servir.

De ser obrigada a servir.

De ter a certeza de que se eu não servir, não sou nada.

Cansei de ser a mucama e ainda assim não ter valor.

Cansei de cuidar de todos, sempre.

E de não ser cuidada, nunca.

Cansei de ter que virar a página que ainda não terminei de ler.

Cansei de agradar a quem só quer receber.

Cansei de ver a pena nos olhos dos outros.

De ter sempre um fardo pesado nas costas.

De ter sempre a culpa como parceira.

De ter o pranto como amigo.

Cansei de ser cobrada e não poder nem pensar em cobrar.

De ter que achar graça no que não acho.

De fazer festa quando quero estar quieta..

De sorrir quando preciso chorar.

Tô cansada de ter que fingir que tudo tá bem.

Cansada de ver a chance ir embora sem poder agarrá-la.

De depender.

De retroceder.

De me aborrecer.

Cansada de criar expectativas e nada.

De dar e ainda ser cobrada.

De ser feliz com a felicidade alheia.

De saber que posso e não consigo.

De saber que quero e não posso.

De viver em função do que o outro me diz.

De pedir pouco e levar nada.

De ser bem tratada quando sirvo.

De ser desprezada quando tenho crises.

E ver o valor que dão às crises dos outros e repúdio pelas minhas.

Cansada de não saber quando e como posso falar.

De viver achando que errei e procurando meu erro, mesmo sabendo que nada fiz.

Tô cansada de ser sincera e não ter identidade.

De ser honesta e não ter valores.

De buscar o certo e ter que me contentar com o duvidoso.

De tomar um comprimido quando o que precisava era uma palavra.

De me acalentar, abraçar, acalmar e chorar sozinha mais tarde, quando todos dormem.

De me preocupar e ser “só” a neurótica.

Cansada de ser a escrava e dessa relação angustiante com o dinheiro que não é meu.

De ver o que de melhor esse dinheiro compra, pro outro.

De ter que abrir mão de sonhos pra que esse melhor aconteça, pro outro.

De não ter opinião.

De ter a opinião anulada por argumentos falhos.

Cansada de ouvir “por que sim”.

Cansada de ver a vida passar por mim e estar zelando pela vida dos outros.

Cansada de mim.

Cansada de você.

Cansada de nós.

Cansada de tentar conquistar o que nunca vai ser meu.

De tentar conceber uma realidade que nunca nasce.

De judiar de mim pra entregar a alegria pro outro.

De violar meu interior pra exteriorizar o que contenta o outro.

De inventar aparatos para adornar o prazer alheio.

De sustentar hipóteses para alimentar a auto-confiança do outro.

De ver tudo o que sinto e que penso ser posto no lixo como um resto do impraticável.

De tentar respirar e ver que o ar não passa da garganta, não enche os pulmões.

Cansei de brigar pra que me vejam e que me amem, que me permitam ser alguém, que acreditem em mim, no meu potencial, nas minhas idéias, no meu afeto, no meu afinco.

Enfim, tô cansada de tudo isso e tô aqui, longe de saber o que fazer.

Sem saber que rumo tomar e que palavras usar.

A única certeza que tenho, agora, é esse cansaço, que não cabe mais em mim.



Desafio (Hoje)

1º Palavra: Lassidão = cansaço; diminuição de interesse; enfastiamento, tédio

2º Leitura: As Intermitências da Morte de José Saramago

3º Frase: Quando será que veremos um final feliz pras mazelas do mundo?


Desafio (11/02/2009)

1º Palavra: magistral = perfeito

2º Leitura: Memórias do Subsolo de Fiòdor Dostoiévski

3º Frase: Impossível ter um livro nas mãos e ler apenas uma frase.

2 comentários:

  1. Oi CHris, vim retribuir a visita,e agradecer pelo comentário que me emocionou e me tocou profundamente.
    E me deparei com um espelho de mim mesma lendo seu post.
    Compartilhamos das mesmas incertezas.
    Não sei te dizer se isso é bom ou ruim.
    De certa forma chega a ser engraçado, o poder que essa blogosfera tem né ???

    EU SEI BEEEM DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO !!

    Estou num processo de amadurecimento sabe, pra dar um ponto final em tudo o que me faz mau.
    Recolher todos os meus EUs, e ser de uma vez por todas a Gabriela.De dar voz a quem por muitas vezes se calou, que sempre tem medo de machucar com a verdade, e ser masacrada com mentiras e julgamentos.

    Que ama incondicionalmente, se dá sem medo.
    Que acredita, confia, que aposta. E que sempre quebra a cara.

    Uma vez, conversando com uma amiga que estava passando por uma crise no relacionamento, eu disse meio que instintivamente:
    - O que realmente é importante na sua vida ? O que realmente te faz feliz de verdade ? Realmete vale a pena ?
    As pessoas só dão aquilo que elas podem dar.Vai de você aceitar ou não.
    E na hora eu não dei a devida importância ao sentido que essa frase traria pra minha vida.

    Por longos anos eu tentei(em vão)entender por que tudo na minha vida tem que ser mais difícil, moroso, sabe. De tentar entender por que as pessoas que eu mais amo, são as que mais me machucam, me julgam, me apunhalam pelas costas.

    E ao me fazer essas mesmas perguntas, decidi sair do meu papel de vítima,que eu acabei me acomodando em ser.
    Me livrar de uma vez por todas das amarras que me foram impostas e algumas que eu mesma me aprisionei(confesso)

    Vale a pena lutar por tudo aquilo que eu acredito, sem me julgar mesquinha. Sem me sentir culpada, ou menos eficiente, menos mãe, menos mulher.
    Quero ser reconhecida pelo que sou, não por que sou uma boa dona de casa, ou porque eu sei passar bem uma camisa, ou fazer uma arroz soltinho...

    Sou para os meus filhos, todas as mães que eu não tive.Dou para eles em dobro o amor e a compreensão que me faltou.
    Tudo que sou, aprendi por mim mesma.Acertando, errando, caindo, levantando.
    Tenho a felicidade e a sorte, de ter ao meu lado um companheiro(de acordo com o dicionário:s.m. Aquele que participa da vida ou das ocupações de outrem; colega, camarada:
    Fam. Esposo)que me apóia. Filhos lindos e saudáveis,que me dão um trabalhão, que me não me deixam dormir uma noite inteira,que não me deixam comer uma comida quente,ou tomar um banho demorado.Que com um único sorriso sapeca faz com que eu sinta que vale a pena.

    Eu sou Feliz !

    Mas eu quero mais, eu posso mais, eu sou capaz.
    Tomar certas decisõe me dá medo sim,medo de errar, afinal sou de carne e osso.
    Vou seguir em frente, me arriscar, meter as caras.

    Dessa vez eu não vou parar no meio do caminho.

    Grande beijo,

    Gabi ;)

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